domingo, 17 de janeiro de 2010

Última nota


O orvalho fresco recém repousado sobre a grama mal cortada exalava seu cheiro pelas campinas verdes. A lua estava crescente naquele dia, e seu brilho iluminava todos os lugares para os quais eu olhava, criando sombras fantasmagóricas e fascinantes. Era como se toda a beleza existente se encontrasse em um único lugar, pronta para ser tocada e dividida com qualquer ser que pusesse seus pés por aquela terra. A luz da lua, que incidia sobre as formas daquele campo, parecia vir de dentro de cada folhagem. Como se cada uma delas tivesse seus sóis e suas luas particulares. Me senti como se fizesse parte de uma cena viva, com tudo ao meu redor conversando comigo, me tocando, me enlaçando em um abraço fraternal. Como se tudo ali estivesse conectado por alguma força ou energia impossível de se ver. Então o som veio com o vento. Suas melodias simples e de composição suave, que tocavam minha alma da mesma forma como você tocava meus lábios todas as vezes que me beijava com aquela delicadeza clara. Sua música trazida com o vento foi capaz de preencher todo o campo, cada pedacinho solitário. Fechei os olhos para ouvir, para te ouvir com mais clareza e me lembrei de você com toda a minha alma. Lembrei do toque quente das suas mãos nas minhas, de quando beijava meus olhos molhados pelas lágrimas da vida, da primeira vez que pegou meu rosto em suas mãos e me deu a oportunidade de sentir a textura dos seus lábios. E principalmente, da forma como fechava seus olhos sempre que finalizava uma música ao piano, como se preservasse a última nota viva dentro de ti. Quando fechei meus olhos para guardar a ultima nota da tua melodia, a brisa leve de outono passou e carregou o restante delas. Foi quando o sol nasceu no horizonte e deixou tudo amarelo, vermelho e mais vivo ainda, que notei que a ultima nota de você ainda ecoava pelo espaço. Porque nunca deixou de ser viva dentro de mim.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Sendo feliz ou sendo triste


Sendo feliz ou sendo triste, tudo que me leva a colocar palavras em um papel qualquer é resultado de você. Há mais ou menos uns três meses não consigo escrever coisas tão intensas sobre meus sentimentos e sobre a vida como escrevia antes. Há pouco por aqui, mas por ali há muito. E eu procuro não escrever, não verbalizar tudo que eu sinto porque eu não deveria sentir. Essa coisa inominável não deveria estar dentro do meu peito, subindo de maneira incontrolável pela minha garganta e me engasgando como só você e suas atitudes impensadas conseguiam. Isso não deveria subir para os meus olhos e formigar, me deixando cada vez mais com vontade de deixar fluir pra fora de mim. Porque isso não deveria existir. Não quero mais ouvir tuas palavras nem abraçá-lo dizendo que tudo está bem. Não quero lhe dar a certeza de que eu estou aqui pro que der e vier, porque eu não quero estar aqui pro que der e vier. Eu só queria que você soubesse que eu sempre estive.