domingo, 20 de fevereiro de 2011

Your Call

- Você demorou.

A garota se aproximou devagar e sentou-se ao seu lado, mantendo aquela distância que há tempos adotara como a mais saudável. Evitava olhá-lo nos olhos porque sabia que as duas íris castanhas estariam pousadas sobre si, e ela não suportaria mais daquilo. Ajeitou-se da maneira de sempre, com os pés cruzados sobre o banco, e respirou fundo enquanto mexia na bolsa procurando qualquer coisa que evitasse respostas.

- Não sabia se devia vir. – Deu-se por vencida. Soltou a bolsa sobre o colo e encarou as mãos. Esperava que ele falasse alguma coisa, que explicasse o motivo do contato inesperado, mas ele não o fez. Apenas arrastou-se alguns centímetros pelo banco, desenlaçou as mãos dela e entrelaçou-as às próprias.

Então ela ergueu os olhos. Não deveria tê-lo feito, não deveria! Mas a surpresa foi tanta que não conseguiu conter o olhar. Há muito aquele toque já não lhe era mais destinado. Foi quase como ouvir novamente a voz dele nessa manhã fria enquanto encarava o banco do parque e cogitava a possibilidade de ir embora sem que ele notasse, mas ela sentou. E ele tocou suas mãos. E ela ergueu o olhar. Sabia o que encontraria ali. Sabia que encontraria o motivo pelo qual lutara, e sabia que desistira por não encará-lo novamente. Antes era um misto de querer ser, mas não ser por completo, com completar não-sendo. Ele tinha amor nos olhos, por mais que suas atitudes e palavras refletissem raiva e indiferença. E hoje o que via era tão diferente que ela quis correr para longe, porque o que quer que estivesse acontecendo não poderia ser real. Arrependimento.

- Me desculpe.