quarta-feira, 27 de julho de 2011

Contos de uma estação qualquer

I.
Agridoce

Começou no salgado das lágrimas traçando um caminho brilhante pelas bochechas coradas de frio. O clima castigava seu rosto, mas a dor do vento cortante era a menor que sentia, dentre tantas outras dores.

De repente o toque gelado de uma mão sobre a pele fina de suas pálpebras, escorregando pelas maçãs do rosto, limpando cada trilha molhada de sua face. Então as pontas dos dedos finos subiram, escorregando por sua testa, nariz, bochechas, queixo. Segurou-lhe o rosto ternamente com as duas mãos, uma de cada lado,.

Ele abriu os olhos e surpreendeu os dela fixos nos seus, poucos segundos antes de ela encostar sua testa na dele fechando os olhos novamente, acariciando sua face com os polegares. Então tudo foi ficando mais amargo, desde os toques às lembranças, e o que parecia um feixezinho de luz brilhando no fim do túnel se apagou como se jamais tivesse existido.

E todos os medos palpitavam em seu peito, bombeados para cada pedacinho de seu corpo tremulo de frio. Um suspiro mais longo que o planejado entrecortado por um soluço involuntário por um sorriso compreensivo e quase triste. Afastaram-se levemente, encarando-se novamente por um breve momento. Então ele viu. E ela também. Eles só não sabiam o quê. Ela se aproximou devagar dele, os olhos passando rapidamente por seus lábios finos, e pousou os seus próprios em sua testa.

- Eu sei.

E então, só por um momento, a vida pareceu menos amarga.