quarta-feira, 28 de outubro de 2009

De olhos bem fechados

Aquela garota sempre foi muito estranha. Não que fosse totalmente reprimida, mas havia um pedaço de si que ela não revelava aos demais. E lá estava ela, naquela rodinha mascarada, disfarçando sua infelicidade em risadinhas falsas e sem humor. Então agora são os outros a rir, o que ela não sabe dizer é se foi de uma piada feita por ela ou dela. Tentava, sem sucesso, se convencer de que não fazia diferença, mas fazia. Aliás, esse era um dos motivos de sua introspecção: tentava embaçar a imagem clara que via a sua frente. Principalmente quando se tratava daquele sorriso. A verdade é que nessa ânsia por distorcer tudo o que passava bem embaixo de seu nariz, pensou ter visto algo por detrás daquele riso escancarado. Uma luz, um brilho, uma pontinha de esperança. Naquela bagunça de sentimentos e histórias e sorrisos e imagens e pessoas e almas, se viu refletida em algo inexistente. Testou suas crenças, testou suas habilidades, seu autocontrole, sua índole. E depois de prejudicar a si mesma com essa cegueira absoluta, abriu os olhos e viu nítido, tão claro quanto água: Não valia a pena. E, de fato, nem nunca valera.

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