sábado, 2 de maio de 2009

'Procure respostas'


Parada nesse corredor mal iluminado e deserto, tento lembrar o que eu procurava quanto comecei a pensar. Pelo menos hoje todos os momentos em que eu estava sozinha eram suficientes para me levar aos últimos acontecimentos, me levar a você. Eu acho que você não tinha essa intenção, ou talvez tivesse.

A verdade é que está tudo muito estranho pra mim. O vazio do corredor se encaixa muito bem com meu estado de espírito, e contrasta perfeitamente com o exterior. De certa forma, prefiro o barulho a esse silencio mórbido, as vozes altas impedem que eu ouça a minha própria, minha consciência. Nesse momento, a única coisa que minha mente grita para mim é ‘procure respostas’, e por mais que eu queira, por mais que eu procure, as respostas se escondem muito bem sob seu ar debochado e indiferente. E eu continuo procurando, feito uma tonta, como sempre.

O elevador parou no meu andar e me tirou do meu transe. O casal saiu de forma desajeitada, cheios de sacolas nas mãos. A moça tropeçou no degrauzinho do elevador e eu tive que abaixar a cabeça para disfarçar a risada. O rapaz a segurou antes que ela fosse ao chão, e eu imediatamente tirei o riso do rosto. Qualquer outro dia eu acharia isso lindo, uma prova de que eles realmente se gostam, levando em conta o olhar apaixonado que ela lhe lançava e como ele sustentava esse olhar com a mesma intensidade. Eles eram jovens – uns vinte e cinco anos no máximo -, e apaixonados. Sim, bem clichê, e contado por uma adolescente apaixonada, fica mais clichê ainda. Talvez não tivesse sido tudo isso, mas pra mim foi. Pra mim foi o retrato daquilo que nunca aconteceu comigo, da paixão correspondida que eu nunca tive. O fato era: Eles nem se preocupavam com a minha presença... E isso me fez pensar. Me fez pensar no tempo que eu perdi, no tempo que eu estou perdendo. Me fez pensar novamente em você e em como eu sou burra. Burra por não deixar transparecer quando preciso, e deixar estampado na minha cara nos piores momentos. Burra, burra, burra. Burra por gostar de você.

E, como uma fotografia perfeita, o seu rosto me veio à mente. Incrível como em tão pouco tempo eu memorizei cada expressão sua, cada olhar, cada sarda discreta. Tudo. E de mim, o que você memorizou? As palavras de afeto? Os gestos de carinho? Ou simplesmente nada?

Um barulhinho agudo e eu meu olhar perdido se focou novamente. Olhei para o lado: corredor vazio de novo, o silencio irritante foi interrompido pelo trancar de porta do apartamento vizinho. Chaves! Era isso! Um pouco óbvio, já que eu estava na porta da minha casa, que eu estivesse pensando em pegar minhas chaves antes de você tomar minha mente e me deixar sem rumo.
Peguei-as, mas não entrei no apartamento. Até que aquele corredor vazio e mal iluminado servia pra alguma coisa e ouvir minha consciência – apesar dela ser tão confusa quanto todo o resto -, não era tão ruim. Sentei no chão. Eu teria que pensar nisso uma hora ou outra, afinal. Pensei, pensei, pensei. Revirei minhas lembranças procurando algum vestígio, algum sinal. E tudo é muito vago.
‘Os olhos são as janelas da alma’, eu sempre ouvi. Mas como procurar no seu olhar as respostas pras minhas suspeitas se quando olho pra eles tudo que vejo é um grande vazio?

Você é um mistério pra mim, saiba disso. Talvez seja isso que me mova, talvez sejam os seus olhos distantes, seus olhares vazios e, ao mesmo tempo, cheios de uma intensidade inquietante, o motivo de eu acordar todos os dias. E quanto mais eu penso neles, mais eu percebo o quanto eu perdi. Por medo, insegurança, ou qualquer sentimento escondido no meu eu mais profundo que eu ainda não descobri. Eu te perdi, porque sinto que em algum momento eu realmente tive você. E a culpa de eu não conseguir continuar com a minha vida e te esquecer é só sua. Por você ser uma pessoa tão incrivelmente imperfeita e demonstrar uma personalidade marcante. Por você ter seus momentos maduros e imaturos, por ser carinhoso e rude ao mesmo tempo. Por você ser você, e isso basta.

Como um gesto de fuga, de impaciência e indignação, enfiei a chave na fechadura com uma raiva desnecessária.
Precisamos acabar com isso, precisamos parar. E, mais do que eu, você precisa parar.

2 comentários:

  1. Que lindo, amora!

    Meio... cinzento, mas eu vejo beleza em todas as cores.

    Beijos!

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  2. Muito legal, Teka. "Meio... cinzento, mas eu vejo beleza em todas as cores." [2]

    Beijão!

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